terça-feira, novembro 03, 2009

mais saudade do que paz.

Bicho esquisito. És o que és, na tua imprecisão de movimentos e vontades. Ora estás feliz (se é que alguma vez o foste ou serás), ora uma letargia tal se abate sobre ti. Direi que é uma simples e inequívoca saudade, saudade essa que nunca saciaste ou da qual provavelmente nunca descobrirás a verdadeira causa. És o Meu corpo moribundo, princípe de utopias descabidas e voláteis, criança que dorme no meu colo. Não sei se repousas o teu espírito ou se apenas morres nos meus braços. Estou certo que morres, porque descanso o teu espírito não tem, apesar das minhas infrutíferas tentativas de to presentear.
Parece que a Paz não é para ti. Criança nos meus braços, criança que já não és. Como cresceste desde que acordaste!, e que lágrimas são estas que queimam o meu rosto? Sensação intensa de perda, agora percebo este vazio que me assombra até em sonhos. Meu prazer silencioso, porque me abandonaste e porque dói tanto a tua ausência?
É esta a saudade que tanto perdura no teu peito e que arranca a bruma dos teus olhos? Minha Luz, minha Noite, como sobrevives assim, tão quieta e tão cheia de dor?
Nunca fui de poesia, sempre deixei esse fardo penoso a teu cargo (quem me dera não o ter feito, quanto sofres!), mas quase que rogo que voltes para os meus braços! Porque este monstro horrendo arde e esbraceja dentro de mim, este ciúme de te dar a outros! Volta a mim criança, para que te tenha nos meus braços e faça desaparecer este azedume da minha boca. Vais morrer, e vou sentir a tua morte dentro de mim, porque Paz não tens.
Esta minha saudade, meu amor, tenho-a pela Paz que te prometi e não cumpri.
Perdoa-me por nunca te ter conhecido realmente.
(escrito pelo Gabriel, o meu heterónimo literário)

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