segunda-feira, abril 18, 2011

noites de primavera

Não proferiste palavras, mas a tua boca vibrava
Como numa canção de embalar para adultos
Numa luxúria quase murmurada
Nesses olhos ferverosos de desejos, de vultos.

O cheiro da tua pele fundiu-se no meu
Embriagou-me, tocou-me, parou-me
Num momento tão infinito quanto o próprio céu
Agarrou-me, susteve-me, amou-me,

E eu deixo o meu corpo num limbo profundo
Não acordo, não recuas, não paras
E tudo à nossa volta parece imóvel, o mundo.
Ontem sonhei que me beijavas.

quinta-feira, março 24, 2011

Conto os dias sucessivamente sem sucesso, como quem conta os metros de altitude que separam o limbo do chão. Penso irremediavelmente no dia cinzento em a névoa-núvem-neblina-sonho sobre qual pairo se vai desfazer-evaporar-fugir-escapar dos meus pés. Porque o limbo é o vácuo, e como pode ser o vazio todo o suporte do meu eixo?
Um vazio cheio de nada.

sábado, dezembro 11, 2010

nunca parto inteiramente


És como uma boa memória. Não me posso queixar. Mas tudo em nós é demasiado intenso, demasiado saboroso, demasiado vida.
E deixo-te agora lentamente, como um lago gelado no Inverno. Quando chegar a Primavera, já não vais estar lá.
Avanço mais um pouco. Não é avançar para te esquecer, para deixar tudo nós para trás. É avançar porque assim deve ser e as surpresas são sempre uma constante.
No entanto, e um dia mais tarde quando nos encontrarmos, dir-te-ei ao ouvido,
Nunca partiste inteiramente.

terça-feira, julho 13, 2010

cartas de amor II

E não é a primeira vez que o digo, ou que o sinto, mas é talvez a primeira vez que agradeço.

Estava cega, e fizeste-me ver. Estive cega para mim durante toda a vida, mas contigo sei o que sou!
Andei à procura durante esta existência de um objectivo. Não és a conclusão da minha busca, mas és quem vai caminhar a meu lado.

Encontrei-te.
Por me dares visão, por me moveres,
Obrigado!
Amo-te.

quarta-feira, junho 09, 2010

Gabriel.

Agarro aquela sombra imaginária nos meus braços.
Ele remexe-se, pede-me que o liberte novamente,
"Não!" e a minha ordem impera, porque não o quero voltar a perder. Ele responde-me naquele tom sempre jocoso de quem anseia a minha tristeza porque é o pão dele,
"Pensei que estivesses feliz sem mim."
A felicidade é subjectiva, penso eu.
"Mas estás aqui agora. Se voltaste, é porque me queres." remato eu
"Volto porque chamas pelo meu nome." finaliza ele.
Suspiro, a sensação amarga da derrota paira nos meus lábios já selados de destino.
"Faço-te triste?" questiona ele, e os olhos cinzentos encontram os meus.
"Fazes-me feliz." respondo eu, embriagando-me com a sua essência a flor de cerejeira.

E se só estou feliz, estando triste?

Mergulho em ti para descobrir, Gabriel.

domingo, junho 06, 2010

se desejo matasse

desire burns.
desire crawls.
desire rips apart, and gets us on.
desire lies.
desire dreams.
Desire lives in us, more than we can ever need.


sábado, junho 05, 2010

mudança

Hoje escrevo com o sentimento de que a mudança às vezes é traiçoeira.
Hoje escrevo com o sentimento de que mudei ao longo dos anos, mas que não mudaria o que sou agora.
Porque está na hora de assumir características da personalidade, está na hora de afirmar e lutar.
Está na hora de meter a passividade no saco e impor-me tal como sou.
É tempo... De mudar ou manter?


Hoje escrevo, porque se não escrevesse, seria mudança.


(Ao Tiago Francisco)